B L O G |
Breves histórias inspiradas em imagens colhidas casualmente na navegação pela Internet (Orkut, Facebook e Twitter). Os textos são fictícios e livres, sem qualquer conhecimento do instante capturado na foto. |
cordamos cedo naquele domingo. Silenciosamente, tomamos café com torradas e geleia de framboesa. Ela, uma única vez se concentrou na página sobre fofocas, e eu, como sempre, perdi meu tempo na seção do zodíaco. Estávamos trocados, sem banho, vestidos com roupas para andar no parque. Lá, não corríamos, como tantos outros. Andávamos. Andar por andar. À toa. Em silêncio. Ela e eu. Nenhuma palavra. Às vezes uma troca de olhar. Eu sempre disfarçava para espiar sua sombra. A luz da manhã a recortava escura e bela.
Paramos de conversar numa segunda-feira qualquer, antes de dormir, naquele momento de fechar o livro e apagar o abajur. Ela já adormecera e eu percorria as últimas linhas de um romance sobre o período imperial. Ela pegou no sono sem me dizer boa noite, tampouco me beijar levemente nos lábios com os olhos sonolentos, como sempre fazia. Antes de apagar a luz, a vi mais uma vez, enfiada em um sonho que eu daria tudo para espiar. Despertamos trocando sorrisos pequenos e silenciosos. Os dois, como todos os dias da semana, sabiam o que fazer, para onde ir. Eu seguia para uma pequena empresa de logística e passava o dia gerenciando coletas e entregas. Ela se trancava em um consultório e cuidava de crianças. Aos domingos, logo cedo, caminhávamos no parque, andar por andar, à toa. Neste domingo, sentei-me para amarrar o cadarço e ela não parou para me esperar, como de hábito. Enquanto eu desembaraçava os cordões, a vi continuar a andar, sem olhar para trás. Mais adiante, tive a impressão de vê-la apertar o passo e começar a correr, pois o cabelo já dançava ao vento com alguma felicidade. Nunca mais a vi. |
Foto: Raissa Peniche (Orkut) | FRICÇÕES |
Postado 04/setembro/2009 Envie o seu comentário |
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