O ALUNO
José Paulo Paes
(Poemas reproduzidos
conforme a edição de 1947,
respeitando-se a ortografia original)




BALADA


Folha enrugada,
poeira nos livros.
A pena se arrasta
no esfôrço inutil
de libertação.
Nenhuma vontade
nem mesmo desejo
na tarde cinzenta.

A árvore sêca
esperando seiva
não tem paisagem.
Na frente é o deserto
coberto de pedras.
Nem sombra de oasis.
Pobre árvore sêca
na tarde cinzenta!

Se houvesse um castelo
com torres e dama
de loiros cabelos,
talvez eu fizesse
algum madrigal.
Mas a dama morreu,
os castelos se foram
na tarde cinzenta!

O caminho se alonga
por entre montanhas,
por campos e vales.
Talvez me conduza
ao roteiro perdido
no fundo do mar.
Mas estou tão cansado
na tarde cinzenta!

Não sou lobo da estepe;
amo a todos os homens
e suporto as mulheres.
Contudo não posso
falar com os lábios
amar com o sexo,
porque sinto a tortura
da tarde cinzenta!

Só me restam os livros.
Vou ficar com êles
esperando que chegue
do fundo da noite,
das sombras do tempo,
oh! imenso mar
vem me libertar
da tarde cinzenta!



| POEMA ANTERIOR | VOLTAR AO LIVRO | TODOS OS POEMAS | PRÓXIMO POEMA |