O ALUNO
José Paulo Paes
(Poemas reproduzidos
conforme a edição de 1947,
respeitando-se a ortografia original)




O HOMEM NO QUARTO


Teu protesto inutil
tuas flores murchas
teu violino facil
tua vontade escassa,

São frutos humildes
são folhas perdidas
que um sapato esmaga
nascendo da sombra.

Caminhas sem rumo
por todas as ruas,
não rasgas um livro
nem matas o amigo.

Cumprimentas mesmo
com garganta sêca
gestos tão longe
que ninguem esboça.

Meu coitado amigo...
prende a tua mão
antes que ela entorne
a copa de sangue.

Teus irmãos controem
no ar atmosférico
com pedras e luzes
um berço pouco a pouco.

Não podes manchá-los
de sangue hesitante
nem deves turbar
o rítmo da aurora.

Acende o cachimbo,
eis uma poltrona.
Começa a vigília
sem impaciência,
Até que outros braços,
redentoras asas,
venham colocar
um lírio muito branco

na página e no verso
do teu melhor poeta...



| POEMA ANTERIOR | VOLTAR AO LIVRO | TODOS OS POEMAS | PRÓXIMO POEMA |