O ALUNO
José Paulo Paes
(Poemas reproduzidos
conforme a edição de 1947,
respeitando-se a ortografia original)




POEMA DESCONTÍNUO


                       I

A mão descobre
volumes incompletos.
No vidro encerrada
a violeta não tem
perfume.
Ai, carne e sentimento
se acreditais
em futil guarda-chuva
para o vosso medo!

Há uma goteira
sôbre minha poltrona.


                       II

Teu vestido branco
bailando na chuva,
era suave pluma
para os meus sentidos.
Mas a lei e o trilho
levaram a dança
e um cigarro triste
me brotou dos dedos.

Agora sem crença,
procuro no ar,
no jardim inutil,
qualquer borboleta
que da chuva esconda
suas asas...


                       III

O limite do corpo. Depois,
o limite dos outros.
A porta disfarça
órbitas vasias
e rosas que nascem
de gravatas rotas.
O copo na mesa,
o álcool no corpo,
adolescentes ouvem
a angústia do blue.
Lá fora, entretanto,
mórbidos despojos
lembram vagamente
um tempo guerreiro.
Mas o adolescente
está tomando gin...
Somente o lixeiro
na fria da madrugada
sem espanto colhe
com seu instrumento,
as rosas e a música
que boiam no vómito
dos adolescentes.


                       IV

Quem bate na porta?
Corvo de verdade,
quinta sinfonia
ou apenas vento?



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